quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Sarau Conversar: o prazer da amizade em verso e prosa

No último dia 25/08 aconteceu mais uma edição do “Sarau Conversar”, organizado pela poetisa Ligia Veloso Crispino. O evento acontece toda última terça-feira do mês na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, no piso superior da Loja das Artes. O autor homenageado da noite foi João Cabral de Melo Neto. O evento sempre conta com um autor e sua obra é explorada durante a primeira parte, que tem duração de uma hora. Nomes como Paulo Leminsky, Manuel Bandeira e Fernando Pessoa já foram apresentados neste ano. Na segunda hora, o microfone é aberto aos participantes que podem declamar seus poemas autorais ou preferidos.
Em julho passado, ao completar o primeiro ano, Ligia Crispino preparou uma grande festa com direito a bolo e vinho e o homenageado daquela noite foi Mario de Andrade. A surpresa da festa ficou por conta da presença do ator Pascoal da Conceição, que deu vida ao poeta naquela noite declamando sua obra. Ontem foi a vez de João Cabral de Melo Neto, nascido em 1920, dois anos antes da Semana de Arte Moderna, na cidade de Recife, Pernambuco. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo. Irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freire. Passou sua infância entre os engenhos da família nas cidades de São Lourenço da Mata e Moreno. Estudou no Colégio Marista, no Recife. Amante da leitura, lia tudo o que tinha acesso no colégio e na casa da avó. Sua obra mais famosa é Morte e Vida Severina, escrita em 1956, que na verdade trata-se de um ato de Natal. Foi levado ao palco do Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), em 1966, e musicado por Chico Buarque de Holanda. João Cabral faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de outubro de 1999, vítima de ataque cardíaco. Ganhador de diversos prêmios e autor de uma vasta e importante obra literária.
A apresentação do “Sarau Conversar” fica a cargo Ligia Crispino, autora do livro de poesias “Fora da Linha”, idealizadora do evento que ganhou dos amigos o apelido carinhoso de presidenta do sarau. Ela é a responsável por trazer as informações bibliográficas dos autores e escolher os poemas. Crianças e adultos são todos bem-vindos, não existe essa de 8 ou 80, no último uma menina de seis anos fez uma apresentação de dança. O próximo já tem data para acontecer, será no dia 29/09, às 19h30.
Trilheiros no Sarau Nosso grupo de trilheiros começou participar este ano; desde o início, eu faltei em apenas uma edição – era reunião de pais de Duda. No último, infelizmente, tivemos baixas muito importantes destaco a chefe das “Bravengers” que agora é universitária não pôde comparecer e sua a falta foi sentida por Ligia e pelos amigos ali presentes. Antes do Sarau, parada para um cafezinho com bolo no Viena que fica na entrada do Conjunto Nacional, que além do bom atendimento, temos a alegria de curtir a música do artista de rua que fica na calçada em frente. Ele cantou uma curiosa música, que nos fez dar algumas risadas. Minha participação no dia 25/08 se resumiu à declamação de um poema de Vinicius de Morais “Soneto do amigo”. Em um mundo onde a falta de amor ao próximo inunda as manchetes dos jornais e as pautas do telejornalismo brasileiro e mundial, duas horas para falar e ouvir palavras de amor recarregam as baterias da esperança.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Missão Impossível – Nação Fantasma

Os críticos podem dizer o que quiserem, mas ninguém tirará do último filme da série “Velozes e Furiosos” o título de filme forçado de 2015. Nem mesmo Tom Cruise com mais um episódio da milionária cine série “Missão Impossível”, que perdeu o fôlego na terceira parte, mas voltou com tudo no último Protocolo Fantasma, faturando US$ 209 milhões nos cinemas americanos. Agora, nesta quinta edição, Ethan Hunt (Tom Cruise) investiga uma agência de espionagem internacional chamada Sindicato. Nosso herói mal sabe que a sua agência IMF sofre pressões do governo dos Estados Unidos, que acreditam que Hunt criou o Sindicato para acobertar seus próprios crimes. Contando com a ajuda de Benji (Simon Pegg), o alívio cômico do filme, Hunt descobre os planos dessa organização para capturar e assassinar políticos europeus. Sem o apoio do governo de seu país Hunt, tentará da sua forma impedir o Sindicato de seguir com seus planos. O filme é recheado de cenas de ação desde o início. Começa com a inicial pré-créditos com Hunt tentando entrar em um avião em pleno voo e que culmina com a clássica trilha sonora. O cineasta casa bem as cenas de ação com a edição de som e a trilha sonora o que tornam as cenas mais eletrizantes.
O destaque é a bela atriz Rebecca Ferguson, que interpreta Ilsa Faust, uma agente dupla que está infiltrada no Sindicato, e que em alguns momentos ajuda Hunt. Ilsa passa a impressão de que não pode ser confiável. A atriz de 31 anos de idade e de origem sueca é mais que um rostinho bonito no filme, a personagem é parte fundamental da trama. Estão no elenco: Jeremy Renner, Ving Rhames, Alec Baldwin e Simon McBurney. A direção fica por conta de Christopher McQuarrie, que já trabalhou com Tom Cruise em “Jack Reacher - O Último Tiro”. Com este filme, Cruise mostra que ainda tem muito a explorar de Missão Impossível, e a franquia vai muito bem, obrigado. “Vida longa ao MI!”, o filme não é nenhuma obra de arte e nem tem pretensões de ser, mas é diversão garantida nas suas 2h18 de projeção. Aliás, para você que não teve a oportunidade de assistir ao filme, pode sair da sala assim que acabar, não tem nada depois dos créditos. Obrigado Marvel.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Reserva do Morro Grande: trilha sobre os trilhos

No último final de semana (15 e 16/08) partimos para mais uma aventura. Caminhar sobre a linha férrea que corta a Reserva do Morro Grande. Iniciamos a travessia em Caucaia e terminamos em São Lourenço da Serra, nas margens da rodovia Régis Bittencourt; foram 21 km de trilha. Foram dois dias em um lugar pacato onde a amizade foi a grande protagonista. Sábado, às 07h00 da manhã, estávamos no ponto de encontro na estação Butantã. Parada rápida, mas nem tanto, na padaria para aquele café da manhã. Partimos de ônibus e em um pouco mais de uma hora e meia de viagem estávamos em Caucaia para iniciarmos a caminhada. Parada no supermercado para compras de última hora e, em seguida, partimos. A andança começou com os funcionários que fazem manutenção na linha férrea fazendo graça conosco porque estávamos tirando fotos dos trens.“Tira minha foto para eu aparecer na Globo”, gritou um deles. Outro disse: “Precisam de água? Eu vendo para vocês por uma onça (R$ 50,00)”.
Aliás, água é item fundamental nessa travessia pelo menos até o local do acampamento. Existe apenas um ponto possível em que se pode pegar água durante essa primeira parte do trajeto em que o sol forte nos acompanhava lá do céu. Um trem passou por nós apitando, e continuamos a andar, mas algum tempo depois ele parou. Quando chegamos ao primeiro carro no instante que ultrapassaríamos a composição, resolvemos parar e tirar uma fotografia, mas para nossa surpresa o maquinista saiu e gentilmente convidou o grupo para conhecer a cabine.
Subimos todos para conhecer o interior, uma pena não tinha uma caldeira e nem lenha, na verdade o local é equipado com computadores. O maquinista nos disse que cada vagão tem entre 80 e 120 toneladas e o trajeto todo da ferrovia vai de Santos a Mato Grosso do Sul. Foi um bônus para o passeio, parecíamos crianças. Fez-me lembrar do trenzinho de plástico que meu pai me presenteou quanto eu era pequeno. Na montagem do acampamento, os rapazes organizaram ponte para a travessia, fogueira e até um banheiro para o banho. A noite caiu, e entre conversas, risos e partidas de uno, regadas a vinho e carne assada, o frio foi chegando juntamente com o céu maravilhosamente estrelado que foi nosso divertimento. Por volta das 22h00 todos resolveram dormir, até que consegui dormir um pouco, mas fez muito frio durante a madrugada e aquela ida ao banheiro tirou meu sono; nem saco de dormir, duas blusas e meias resolveram a questão.
Na manhã do domingo a cerração e o orvalho nas plantas e nas barracas davam um charme a mais ao local. Desmontado o acampamento, sem antes nos servimos de um belo café da manhã reforçado com tapioca doce e salgada, além de cafezinho adoçado com rapadura. Pegamos o rumo para completar da trilha. Nesse trajeto o diferencial são os túneis e o ar imponente que eles produzem, são três no total. E dá-lhe trens e pedras e mais paisagens para tirar fotos. A paz foi muito grande entre o grupo e a sintonia entre todos foi bem bacana. O local é propício para caminhar e colocar os pensamentos em ordem, encontrar-se. Não é todo dia que se tem a possibilidade de juntar velhos amigos e conhecer novas pessoas, trocar ideias e experiências. No final das contas, o que poderia provocar stress – que foi a noite mal dormida – acabou virando motivo de piada.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

“O Ciclo da Vida” diverte e emociona

“Puxa parça, que filme lindo!”. Foi assim que minha amiga descreveu o filme “O Ciclo da Vida” ao término da sessão. Antes da exibição, aguardávamos a liberação da sala no hall de entrada do cinema. Um senhor de bengala passou por nós e perguntou se estávamos ali para ver o filme. Respondemos apreensivos que sim, e ele disse: “É um ótimo filme, vocês irão gostar”. Não apenas gostamos, mas nós amamos o filme “O Ciclo da Vida”, um filme chinês dirigido por Zhang Yang e revelado ao mundo em 1999, com "Banhos". Eu, sinceramente, confesso meu total desconhecimento do cinema produzido na China – acho que é a primeira produção que assisto do país asiático –, dizem os críticos que o filme faz parte desse atual gênero de filmes sobre a velhice, que o público mais velho manteve o hábito de ir ao cinema. E por isso o grande número de produções com essa temática.
Seja como for, o filme emociona já nos primeiros minutos com um número de mágica dentro da casa de repouso realizado por um deles, o mais forte fisicamente. Ele tem um jeito de mestre, de ser o mais sábio, e o sonho dele é um dos motores do filme. Impossível não se emocionar ou não se identificar com os personagens ali representados. Os dramas que a idade revela: a proximidade do fim da vida, os sonhos não realizados e as amarguras não curadas. Estar próximo do fim apavora até o ser humano mais durão. Além disso, a descoberta da perda do controle das funções do próprio corpo. Deparar-se com a realidade do finito é muito dolorido. Todos nós conhecemos ou vivemos com pessoas nessas faixas etárias – entre 70 e 90 anos –, e como o filme retrata muito bem e de forma sutil, acabam virando crianças totalmente dependentes dos mais novos. O roteiro foca no humano, e consegue não cair no melodrama conduzindo a história para os problemas e sonhos característicos da idade. Parabéns também para a direção de fotografia, as paisagens são lindas. As atuações são empolgantes, o filme é sensível. Foi uma bela maneira de conhecer o cinema chinês.

Imigração ilegal é retratada em comédia francesa

“Samba” é um filme francês baseado na obra de Delphine Coulin, cujo livro foi lançado no Brasil recentemente pela editora Paralela (R$ 29,90). A direção fica por conta da dupla de cineastas Olivier Nakache e Eric Toledano, os mesmos que dirigiram o sucesso “Intocáveis”, de 2011. Os dois são craques em sincronizar momentos de drama e comédia e o fazem com grande talento. Samba é um filme sensível e aborda o drama tão presente na sociedade atual, o da imigração ilegal. A história do imigrante senegalês Samba Cissé – vivido por Omar Sy de Intocáveis – é o ponto de partida do filme. O jovem trabalha em empregos informais em Paris; quando o filme começa, vamos encontrá-lo lavando pratos em um restaurante parisiense. A história ganha mais vida quando entra em cena Charlotte Gainsbourg no papel da assistente social Alice. Ela conhece o jovem africano e decide ajudá-lo a tentar regularizar seus documentos.
As condições desumanas dos imigrantes que sofrem com as regra burocráticas, que humilham e desrespeitam aqueles indivíduos, formam o lado político-social da trama. A questão racial está presente em algumas cenas, em especial a que Samba é aconselhado pelo seu tio a se vestir de forma “europeia” para não chamar a atenção das autoridades. O amigo brasileiro de Samba Cissé é quem por muitas vezes rouba a cena. Interpretado por Tahar Rahim, o personagem Wilson é quem tira algumas da melhores risadas da plateia. O filme não deixa de mostrar como nós brasileiros somos vistos pelos estrangeiros. Em tempos de imigrantes ilegais que arriscam a vida em longas travessias, sejam elas por mares, terra ou túneis, assistir “Samba” é se deparar com uma realidade dura e triste em que o ser humano sujeita um outro a passar por condições humilhantes pelo simples fato de não ser da mesma pátria.