sexta-feira, 1 de julho de 2016

Perdas e ganhos da infância e de um pai babão



Sentada ao meu lado, na mesa de jantar, com a mãozinha gordinha segurando um dente – que na hora eu pensei que fosse comida – Duda me olha sorrindo e diz: “Papai, meu dente caiu!”. E ela ficou irradiante, seu trabalho de semanas estava concluído, e o “troféu” estava em suas pequenas mãos. Na hora de dormir, colocamos o “troféu” embaixo do travesseiro para a fada do dente vir buscar.

Na manhã daquele mesmo dia, um sábado nublado e frio em São Paulo, Duda teve a sua primeira competição. A escola que ela faz natação patrocinou um campeonato entre os alunos. Dentro da piscina, a pequena estava com os olhos arregalados, mostrava-se nervosa com o que estava acontecendo. Ela adora natação, mas nunca tinha vivido aquela experiência. Eu acompanhava de longe os preparativos e confesso que deu um nó na garganta ao vê-la disputando uma medalha; até pouco tempo atrás ela cabia nos meus seguros braços, agora eu entendo quando me diziam: “Ricardo, filhos crescem rápido”.

Duda foi até a metade da piscina com o nervosismo no olhar, mas quando viu que a amiguinha que a seguia na raia ao lado não estava, foi confiante buscar a vitória. Ao final, as duas ganharam medalhas. Essa medalha passou o final de semana todo no pescoço e por diversas vezes me questionou se era feita de ouro, prata ou bronze, e eu como bom pai babão, lógico, dizia que era de ouro. Em meio à conquista da medalha e a perda do dente, Duda foi criança: desenhamos, brincamos com as bonecas dela – uma delas gosta de jogar basquete –, ela andou de bicicleta na praça e fez novas amiguinhas.


Para Duda tudo foi novidade, mas mal sabe ela que teve uma pequena amostra do que é a vida adulta: as perdas e ganhos que seguirão por toda a vida e muitas vezes mais perdas do que ganhos, mas sempre recompensas em aprendizagem. Porém, a pequena nem se deu conta e nem deveria, a infância é para isso, experimentar sem medo de ser feliz, sem as censuras que nos são impostas ao longo do crescimento e que nos fazem, infelizmente, por muitas vezes, perder a espontaneidade e a ingenuidade.

Ao acordar na manhã de domingo, a primeira coisa que a pequena fez foi olhar embaixo do travesseiro, e não é que a fada do dente, realmente, veio e levou o dente e lhe deixou a tão esperada moedinha! Duda ficou toda feliz: “Olha papai!” e, em seguida, saiu correndo para mostrar para os avós que a fada havia deixado o dinheiro. E com isso o mundo de fantasia dela estava salvo e, por incrível que pareça, o meu também!

Um comentário:

  1. Muito legal Ricardo!!!!!!!!! É a vida meu amigo sendo contada, com certeza sera contada diversas outras vezes, porém em cenários diferentes.

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