sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

“Lion - Uma jornada para casa” é uma surpreendente história de vida



Em algum momento da vida é normal recordamos o passado, seja para lembrarmos com saudades de tempos felizes ou ainda de períodos tristes de nossa existência. Muitas vezes, temos a sensação que poderíamos ter agido de maneira diferente em certas ocasiões ou até mesmo que ficou para trás uma ponta solta com alguém ou alguma situação durante a nossa jornada. Essa ponta solta do passado é a premissa da história, baseada em fatos reais, do filme “Lion – Uma jornada para casa”, do diretor Garth Davis. O longa concorre a seis estatuetas do Oscar (filme, ator e atriz coadjuvante, roteiro adaptado, trilha sonora e fotografia) e é baseado no livro "Uma longa jornada para casa", uma autobiografia de Saroo Brierly (Record, 224 páginas, R$ 34,90) que também assina o roteiro do filme.

O filme começa na Índia, com o pequeno Saroo interpretado pelo ator mirim Sunny Pawar, de apenas 5 anos de idade – que trabalha tão bem que merecia uma indicação ao Oscar – , e o seu irmão Guddu (Abhishek Bharate). Neste momento, somos apresentados a uma realidade triste e desigual de um país com proporções continentais e com a segunda maior população do mundo, repleto de mazelas sociais. No entanto, isso serve apenas de pano de fundo para o desenvolvimento da trama que vai mostrar os percalços de uma criança desamparada em uma cidade grande.


Numa noite, Saroo se perde do irmão mais velho e se vê sozinho na estação ferroviária. A procura de abrigo, ele acaba adormecendo dentro de um vagão da locomotiva; quando acorda, o trem partiu. A pobre criança se vê cruzando a Índia, sem saber ler nem escrever, e falando um dialeto completamente diferente do falado na cidade de Calcutá, que fica a 1,6 mil quilômetros de sua terra natal. Ele é obrigado a sobreviver nas ruas e a fugir de estranhos, até ser acolhido num orfanato e ser adotado por um casal de australianos. O menino cresce e os anos passam. Mesmo sendo muito agradecido pela nova oportunidade de uma vida melhor proporcionada pelos seus pais adotivos, Saroo não esquece suas origens. Com a ajuda da internet, aparece a ochance de procurar sua família biológica.

Dev Patel, que interpreta o Saroo adulto, tem carisma, mas em certo ponto do filme a história fica arrastada. O diretor optou por mostrar a angústia do personagem na procura de seu passado, mas com isso perdeu o desenvolvimento. Não que isso comprometa o longa, mas os bons elementos da trama, como as duas mães, o irmão traumatizado e a infância fragmentada são deixados um pouco de lado. A história da Saroo é linda e impressionante e ao mesmo tempo simples. Tecnicamente, a fotografia e a trilha sonora são perfeitos, e os atores, principalmente os da fase indiana, estão excelentes em seus papéis.


O filme traz duas questões importantes para serem refletidas: a adoção e a inquietude para resolvermos o nosso passado. Lion – Uma jornada para casa foi para mim, uma ótima surpresa. Saí emocionado do cinema e consegui entender a angústia de Saroo em buscar sua verdadeira origem. Uma pena concorrer ao Oscar num ano com uma safra de filmes tão boa.

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