quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Carnaval na casa de verão do Papai Noel

Sábado de Carnaval é sinônimo de folia, blocos e desfiles das escolas de samba. Mas ao contrário da maioria das pessoas, este ano eu não estava no clima de bagunça, aceitei o convite de uma amiga e fui com alguns amigos para uma chácara no interior paulista. Lá teríamos comilança e risadas em níveis aceitáveis para a minha idade. Enquanto nos aprontávamos para fazer uma trilha, ali próximo, minha amiga grita: “Gente, meus pais chegaram!”, exclamou ela ao ver seus pais descerem do carro. Já era domingo e nos aprontávamos para sair. A maioria estava reunida na varanda e fazia um calor senegalês naquela manhã. Eu, naquele instante, estava dentro da casa, quando sai a mãezinha dela, Dona Tereza, uma senhorinha simpática e sorridente de cabelos branquinhos, com duas vasilhas pesadas nas mãos: uma com muçarela ralada e a outra com linguiças calabresas picadas. Ambas seriam usadas nos recheios das pizzas à noite. Mas as pizzas, por incrível que pareça, pelo menos para mim, passaram de protagonistas daquele dia para simples coadjuvantes.
Peguei as duas vasilhas e levei para o interior da casa. De lá ouvi uma voz forte cumprimentando o pessoal, era Seu Claudio. Quando sai na varanda uma imagem instantaneamente surgiu na minha cabeça. E lá estava ele, totalmente disfarçado de calça jeans e camiseta - era ele sim, com certeza - eu não tinha dúvidas. Homem, branco, com cabelos e barba brancos, jeito bonachão, dava vontade de abraça-lo. Sim, era Papai Noel disfarçado. Confesso que conquistei uma habilidade peculiar sendo pai de uma menina, que é a possibilidade de fantasiar e de usar a imaginação num exercício diário que muitas vezes me faz sair da mesmice da vida adulta e da falta de novidades que, muitas vezes, a idade me traz. O problema todo é quando essas fantasias acontecem e a pequena Duda não está comigo para embarcarmos juntos nessa aventura, isso pode virar um problema, mas deixei para lá esse detalhe e prossegui na minha fantasia. Voltamos da trilha, desta vez estou parado na varanda conversando com a Dona Tereza e ele está no meio da propriedade se aprontando para colher abacate. Ela me diz: “Vou ajudar o Claudio”. Naquele instante, entre ela dizer isso abrir o portão e sair para o quintal, eu pensei: “Quantas pessoas no mundo têm a oportunidade de colher abacate com Papai Noel?”, não pensei duas vezes, sai em disparada.
Daquele ponto em diante eu era uma feliz criança e, realmente, abandonei qualquer traço de maturidade e me joguei na fantasia de estar visitando a casa de verão do Papai Noel, mas o que tive na verdade foi uma aula de generosidade e respeito. Uma bela história de vida representada naquele espaço repleto de árvores frutíferas das quais ele fez questão de nominar uma a uma. Além disso, me contou dos desafios que teve na aquisição do terreno, dos perrengues na construção, da manutenção do local, dos insetos que destroem árvores e frutas. Mas tudo isso sempre com um sorriso no rosto e sem esmorecer aos desafios apresentados. E eu?! Estava ali atento a tudo, como uma criança eu prestava atenção. À noite ele nos fez pizza, mas foi embora no mesmo dia. Motivo: a filha mais nova tinha ficado em casa e precisavam voltar. Bom, lá se foram eles, em seu trenó 4X4 e eu de volta a minha forma adulta, com vergonha, não lhe pedi um abraço. Perdi uma oportunidade de abraçar o bom velhinho, mas pelo pouco que me conheço, a perderia pelo mesmo motivo se ainda fosse uma criança. Vixe! Pelo visto não fantasiei tanto assim.

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