quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Terra Sonâmbula: o realismo fantástico de Mia Couto

No livro Terra Sonâmbula, o escritor moçambiquenho, Mia Couto, brinda o leitor com duas fantásticas histórias narradas paralelamente. A primeira tem como personagens principais o velho Tuahir e o menino Muidinga, que estão em fuga da guerra civil que devastou Moçambique. Até que encontram um ônibus incendiado em uma estrada poeirenta que acaba servindo de abrigo para os dois. O veículo está repleto de corpos carbonizados, mas há também um outro corpo à beira da estrada; junto dele, uma mala que abriga alguns cadernos despertam a curiosidade de Muidinga, logo, ele descobre que o morto se chamava Kindzu e os escritos pertenciam a ele. Deste momento em diante, conhecemos a viagem de Tuahir e Muidinga, e, em flashback, o percurso de Kindzu contados a partir dos seus “cadernos” que relatam a busca do personagem pelos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores da guerra.
O livro requer uma atenção especial durante a leitura. O romance é escrito numa prosa poética que remete a Guimarães Rosa. Mia Couto já confessou, algumas vezes, ser admirador do escritor mineiro. Couto compõe uma bela fábula usando elementos do realismo fantástico e ensina que sonhar, mesmo nas condições mais adversas, é elemento indispensável para se continuar vivendo. Mia Couto nasceu em 1955, na Beira, Moçambique. Além de escritor, é biólogo, jornalista e possui mais de trinta livros, entre prosa e poesia. Terra Sonâmbula é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Recebeu uma série de prêmios literários, entre eles o Prêmio Camões de 2013, o mais prestigioso da língua portuguesa, e o Neustadt Prize de 2014. É membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário