quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Teoria Geral do Esquecimento aborda de forma suave temas complexos

“Meses antes, Orlando começara a construir no terraço uma pequena piscina. A guerra interrompera as obras. Os operários haviam deixado sacos de cimento, areia, tijolos encostados aos muros. A mulher arrastou algum material para baixo. Destrancou a porta de entrada. Saiu. Começou a erguer uma parede, no corredor, separando o apartamento do prédio”. Assim começa a emocionante história de Ludovica Fernandes Mano, ou como é carinhosamente chamada Ludo. Essa portuguesa se muda para Angola com a irmã Odete e o cunhado Orlando, que é engenheiro. Logo após à chegada dos três, e já muito bem instalados no prédio dos Invejados, uma das edificações mais luxuosas de Luanda, a capital angolana, o país entra em processo de independência, fazendo com que o casal fuja e Ludo permaneça trancada no apartamento. Com esse fio condutor, inicia-se o romance “Teoria Geral do Esquecimento”, escrito pelo autor angolano José Eduardo Agualusa. A obra tem em seu título o esquecimento. No entanto, aborda o fato de nunca sermos esquecidos. O autor, nas 174 páginas que compõem o livro, utiliza como pano de fundo a independência de Angola ocorrida no ano de 1975. O movimento de independência da Angola foi muito conturbado e o país mergulhou em uma guerra civil que durou 14 anos.
A personagem central do romance de Agualusa, Ludo, fica trancafiada, por vontade própria, durante 28 anos na cobertura do prédio dos invejados. E da cobertura vê algumas manifestações populares acontecerem, mas sem nunca interferir. De longe, ela observa as mudanças no entorno da cidade e dentro do prédio onde vive. Porém, sua luta pessoal para fugir de sua história de vida e manter-se longe das pessoas as quais ela considera uma ameaça, faz com que ela passe por privações e crises emocionais que a levam, no final, a superar seus medos e a perdoar-se. Agualusa trabalha pontos complicados tanto da história de Angola como da personagem, mas a forma como ele trata essas questões não torna a leitura do seu texto maçante ou tediosa, pelo contrário, o leitor é levado a se interessar pelo drama de vida de Ludo e pelas histórias paralelas que se entrelaçam transformando-se em apenas uma.
Um dos pontos mais interessantes do livro é quando Ludo é descoberta em seu apartamento: sozinha, abandonada à própria sorte, sem comida, em uma habitação quase sem móveis onde a miséria reinava. Neste trágico e sofrido cenário, um garoto de apenas sete anos surge para lhe ajudar. O que nos faz refletir sobre o quanto nós, por muitas vezes, nos escondemos, torcemos para que sejamos esquecidos, lutamos para que nosso passado fique escondido a sete chaves. Porém, a vida nos mostra através de alguma pessoa, muitas vezes um estranho, que enfrentar as dores da existência é essencial e bem menos dolorido. Curta nossa fanpage no Facebook, acompanhe as datas dos próximos saraus, os poemas, vídeos e fotos que compartilhamos: https://www.facebook.com/pages/Conversar/1642753309283344 Sarau Conversar acontece sempre na última terça-feira de cada mês, das 19h30 às 21h30, no piso superior da loja de arte da Livraria Cultura no Conjunto Nacional.

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