quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Regina Casé provoca e emociona em “Que horas ela volta?”

"Que horas ela volta?", o filme brasileiro mais comentado na atualidade e, segundo alguns críticos brasileiros e internacionais, forte candidato a estar entre os cinco concorrentes ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2016. Mostra a nossa realidade e que poucos brasileiros querem comentar. Em pleno século XXI, o Brasil ainda possui resquícios dos tempos da escravidão. Infelizmente, o país que estampa em sua bandeira “Ordem e Progresso” mantém ainda entre seus cidadãos abastados o habito de vida que existia nos tempos da escravidão, ou seja, Casa-grande e a Senzala. A diretora e roteirista Anna Muylaert traz essa relação à tela de uma forma leve nessa comédia com tom provocativo. Assisti ao filme e me identifiquei demais com a personagem “Val” interpretada pela Regina Casé, que atua de forma digna a empregada doméstica. Isso ocorreu porque tenho uma amiga que tem a mesma idade de Casé, e que tem a história de vida parecida com a de Val. Pernambucana, deixou a filha com a mãe para tentar a vida em São Paulo e ainda trabalha em casas de família. É neste ponto que tiro o chapéu para Regina Casé; não se vê em nenhum momento a apresentadora do Esquenta, ela dá vida à personagem como se sempre tivesse exercido o oficio de doméstica. E nunca tivesse feito outra coisa na vida. "Em meus programas de televisão, viajei pelo sertão, onde a “Val” nasceu. Conheci as periferias onde ela morou. Nos bailes e forrós, eu vi a “Val” se divertindo. Nas casas da minha mãe e da minha avó, “Vals” nos ajudaram a criar nossos filhos", contou Regina Casé à revista Época.
A vida de Val seguia seu rumo tranquilo e normal até que sua filha Jéssica decide morar em São Paulo para prestar o vestibular. É neste momento que a vida de Val e do telespectador – que está confortavelmente acomodado no cinema – começa a sentir o desconforto. Como alguém que é considerado da família que criou o filho da patroa, como se fosse seu não tem direito a um simples banho de piscina? Isso é apenas uma das demonstrações que o filme retrata: a infeliz situação de submissão que colocamos o nosso semelhante, que deixa de ser um igual, pelo simples fato das classificações sociais. O filme possui várias cenas engraçadas, mas que logo em seguida nos fazem sentir pena da personagem principal.
Com a chegada de Jéssica, tudo muda. A garota chega para, de certa forma, afrontar e quebrar esses paradigmas. Sua mãe, empregada da família de tantos anos, que passava despercebida pela patroa em várias ocasiões, passa a ser o centro das atenções da casa. “Que Horas Ela Volta?” foi premiado no Festival de Berlim, em Sundance, e vem recebendo muitos elogios dos críticos de todo o mundo. Há tempos o Brasil precisava de um filme com uma trama mais elaborada, algo que fizesse o telespectador sair da sala de cinema refletindo sobre nós mesmos e Anna Muylaert nos deu esse presente.

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