quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Pauliceia Literária: o prazer de conhecer dois autores

Meu amigo Eduardo Hamada sempre diz: “Vou molhar as palavras”. Essa expressão é repetida por ele toda vez que ele sai para tomar uma cerveja, aos finais de semana. Realmente tenho que concordar com o Hamada, uma ou umas – depende da ocasião – cervejas ajudam a molhar as palavras e as ideias impressionantemente fluem. Bom, me lembrei dessa frase citada pelo meu amigo no final da noite da última sexta-feira (25/09). Curiosamente naquela noite eu não havia bebido nenhuma gota de álcool. Estava saindo do Pauliceia Literária com dois livros autografados nas mãos, um largo sorriso no rosto e fotos ao lado dos autores Mia Couto e José Eduardo Agualusa. A noite se apresentava chuvosa, era início da primavera, por volta das 19h00. Os dois simpáticos autores africanos falaram de suas experiências, processos criativos e as suas referências literárias, especialmente as brasileiras.
No auditório lotado da sede da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), o jornalista Manuel da Costa Pinto foi o mediador da conversa. Após os autores se apresentarem, o jornalista pediu desculpas por não conseguir fazer a pergunta aos dois de uma maneira individual. Agualusa arrancou as primeiras risadas da plateia ao dizer que não havia problema, pois os dois eram praticamente um casal. Brincadeira à parte, realmente a amizade dos dois ficou muito clara logo nos primeiros momentos da conversa. Apesar de Agualusa ser um pouco mais jovem que Mia, os dois são cúmplices na literatura e ambos se influenciam em seus livros e escreveram duas peças teatrais juntos. Agualusa se mostrou ser bem mais extrovertido que Couto. A certa altura Mia Couto disse: “Se fosse brasileiro teria nascido em Minas Gerais”. A frase arrancou novas risadas do público, o autor assumidamente disse ter na obra de Guimarães Rosa sua grande referência para seus livros. Agualusa disse gostar muito de Jorge Amado e seu realismo fantástico, além do poeta Manuel de Barros, com quem fez uma entrevista realizada na casa do escritor, no interior do Mato Grosso do Sul, que lhe rendeu um prêmio, e confidenciou ao público presente que precisa ler muita poesia para escrever literatura.
Após as quase duas horas de conversa, os dois rumaram para uma concorrida sessão de autógrafos; acredito que quase todos os presentes enfrentaram a fila e uma grande parte deles, inclusive eu, compraram um livro. Adquiri o livro chamado “Teoria Geral do Esquecimento”, do José Eduardo Agualusa. Foram duas horas de pé, em que esperei pacientemente para ter um autógrafo e uma foto. Durante a espera assinei abaixo-assinado para a luta contra a corrupção, ouvi variadas histórias de vida, ri de gente querendo furar fila e de pessoas com sacolas repletas de livros nas mãos. Confesso que sai cansado, mas feliz. Mesmo com os pés doendo, estava com o sorriso largo no rosto e a alma renovada. No final da rua tem um bar e naquele instante lamentei estar sozinho e não ter uma companhia para molhar todas as muitas palavras ouvidas por mim naquela noite, mas foram tantas que um possível coma alcoólico seria inevitável.Fotos: Facebook do evento

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